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Crítica “Frisante” por Afonso Gentil

Afonso Gentil, para o Aplauso Brasil (redacao@aplausobrasil.com.br)
 
SÃO PAULO – Fato raro entre as diretoras da atual geração que se impõem sem alarde e com a modéstia e humildade dos verdadeiros mestres, falemos de  Eloisa Vitz, cujo Grupo Gattu vem crescendo  no conceito dos formadores de opinião, graças ao talento  e cultura dessa antenada figura artística.
Culta, inquieta, a favor da estética apolínea do equilíbrio entre forma e conteúdo, a diretora nos joga, em seus trabalhos densos, na trilha dos criadores que amam o teatro antes de si mesmos (Antunes Filho e Eduardo Tolentino de Araujo,para ficarmos só com os casos de indiscutível sacerdócio).
Em 2012,o Grupo Gattu, após 12 anos viu-se sem “casa”. A Universidade em que se aquartelaram todo esse tempo foi vendida. O susto entre os preocupados com o teatro sério, foi grande. Afinal, com seu paciente e consciente trabalho de gestação de atores e atrizes desapegados da fama, estávamos, certamente, vislumbrando uma luz no fim do túnel, atropelando o lixo do pos-dramático, brincadeirinha que a história se encarregará de apagar da memória dos sensatos.
O PAI GREGO DO SUSPENSE
Pelo já dito até aqui não é de se espantar que o Gattu da Eloisa tenha escolhido descontraidamente uma comédia policial para inaugurar sua nova sede (vide Serviço), Frisante. E  Sófocles com isso? Tudo!
Os que se interessam pelas origens do teatro, lá dos tempos dos gregos, sabem que a primeira trama policial nasceu acoplada à tragédia Édipo Rei, de Sófocles. O que vem comprovar a origem nobre do policial, esnobado pelos intelectuais brasileiros.
Na nobre função de provocar a piedade e o horror da platéia, ou seja, a catarse libertadora, o protagonista (Édipo)transforma-se em vítima e algoz dele mesmo, na obsessiva busca do culpado pela peste que assola a cidade que ele governa, como castigo dos deuses a um crime hediondo em curso.
Você lê (ou vê) a trama de Sófocles com aquele incontrolável aceleramento das batidas do coração, mais conhecido como “suspense”. O gênero policial imortalizou a Inglaterra como filha dileta doÉdipo de Sofocles.
TRILHA DO RISO
Frisante preferiu seguir a trilha do riso para sustentar a platéia em suspense. Concebido por um jovem – Tito Sianini – brasileiro há anos morando em Londres (antes formado em Letras pela USP), o texto não encontra similar nessa espécie de paródia (leia-se farsa irresponsável à la Nelson Rodrigues), onde o psicologismo dos personagens importa menos que suas revelações escabrosas.
A movimentação é intensa, sem atropelos porém. A crítica à falta de ética dos herdeiros nos remete aos acontecimentos políticos recentes em Brasilia. Valha-nos Deus!
Mas, no espaço cênico o resultado é hilário, com gostinho final de quero mais.
Os figurinos elegantes e de bom gosto da própria Eloisa, jogam a ironia da predominância da cor branca com a negra sordidez de quem os usa.
Bem iluminado, o quadro “cinematográfico”se faz presente, com discrição. Já a trilha sonora provoca divertidos efeitos na sua solenidade sinistra.
O elenco pode não ser inteirinho de atores de aprendizado consumado. Mas, possui a simpatia de quem ama jogar, dialogando com seus parceiros de cena, arremetendo-os às ora desérticas paragens de GENTE no palco, dominado este por –desculpe-nos os partidários do pós-dramático do alemão Lehmann – anêmicas figuras lambuzadas, sem face, sem personalidade.
Frisante – para ficarmos no clichê – faz sua alma borbulhar. Melhor, faz a gente se sentir no bom e velho  planeta terra.
Serviço: FRISANTE
Casa e Teatro Grupo Gattu/ Rua dos Ingleses, 182 (defronte ao Teatro Ruth Escobar)
telefone 3792-2023 – Sábados  21 h – Domingos e SEGUNDAS  às 20 h./ 70 minutos/14 anos / 60 lugares / Estac. Conveniado no  287 da rua dos Ingleses.

 

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