O ‘Era uma vez’ desencantado do Grupo Gattu
Afonso Gentil, para o Aplauso Brasil (redacao@aplausobrasil.com)
SÃO PAULO – Em Reino, escrito e dirigido por Eloísa Vitz, que está no elenco com seu Grupo Gattu, no Teatro do Sol, nova sede da trupe, que fica em Santana, o mundo palaciano é pintado inicialmente como um conto infantil, lúdico e irreverente como se fosse para crianças e feito por crianças. Há nessa fase inicial até a intervenção bem coreografada de ritmos “pop” que fazem o delírio de uma Regina Casé em seu Esquenta.
A ideia, parece-nos, é mostrar a alienação do povo, enquanto a Rainha e seus 39 ministros engendram a sarabanda da luta pelo poder e da corrupção, com vários duelos de espada, danças à beira do ridículo e com a libido à solta, tudo sustentando e justificando as tramas homicidas.
Instala-se, pois, a irresistível teatralidade da tragicomédia, da farsa política. A cena acabará “manchada de sangue”, como, na vida real, a população iria preferir. Revela-se, sem pudores, o desencanto da autora e de todos nós com a política. Apesar da leveza da encenação, fica o travo amargo da desesperança.